Nasce uma nova síndrome. No começo tudo era legal. As pessoas liam seu blog para saber de tudo o que estava acontecendo com você. Coisas boas, coisas ruins, irrelevantes, importantes, engraçadas, desabafos, críticas, nonsense, tudo. Existia uma inocência digital. Em 2001 eu entrava pro mundo dos blogs. Arrastado por uma legião de amigos, devo ter sido o último, criei uma porra dessas e comecei a escrever. Graças a isso fiz grandes amizades. Consegui conhecer um monte de gente e ter acesso a uma porrada de informação que nunca dantes havia absorvido. Era supimpa. Então, depois de certo tempo, o que era puro virou adolescente. Começou uma disputa de layouts, links, número de acessos, número de comentários, quem noticiava primeiro e, como todo bom adolescente transbordando de hormônios, iniciou um show off do caralho. Meu blog é maior que o seu, sabe assim?

O tempo foi passando, todos foram crescendo e uma seleção natural deixou os purulentos pra trás e o conteúdo se fez superior. Os fracos caíram... Como na seleção natural das espécies sempre rola um ponto fora da curva, um ser mutante disforme sem possibilidade de catalogação, alguns outros blogs mantiveram-se vivos. Feios, sem graça, fedidos... como esse, por exemplo.

O meu ponto é outro. Perdi o mio da fiada. O que aconteceu na fase da inocência perdida é que nasceu uma Síndrome. Essa doença galopante deve existir somente na minha cabeça mas, filosoficamente falando, se está em mim e mesmo que somente em mim torna-se real. As pessoas ficam se exibindo. Ficam contando vantagens profissionais e pessoais. Uma infinita necessidade de mostrar pra todo mundo que está feliz. Uma extrema vontade de exibir um mundo perfeito, feliz, seguro, bonito.... Tudo é bom, tudo é gostoso, tudo é lindo... Um mundo de comercial de margarina. Ouro e mel. Transa de filme pornô.

Agora essa prática se arrastou pro Twitter, Facebook, Orkut e onde puder ser adicionado o seu perfil. É uma quantidade absurda de gente contando vantagem. Contando futilidades. Eu preciso muito mostrar que eu sou feliz. Eu sou uma pessoa de sucesso. Eu não tenho problemas. Minha vida profissional é perfeita, meu mundo é sublime e poucos foram convidados.

Daí... com medo de adotar a Síndrome, fico pensando 75 vezes antes de escrever qualquer coisa.

Esse post nasceu por isso. Queria escrever sobre outro assunto, mas vai que eu peguei a Síndrome. Que saco.

4 comentários:

Ivan disse...

Veio ! ! !

Cada vez mais acredito que você é um VIADINHO ....

Que papo do caralho ...

Vai escrevendo ai que eu vou pichando o que você escreve aqui ...

Mas falando sério ... foda-se o que a maioria pensa ... seu blog é legal e eu entro nele todo dia para ver se tem novidades. E acredito que varios amigos seus tbem ... e acho que isso é o que importa ...

um abraço

Patricia disse...

Ótimo texto. E concordo com alguns pontos. Li um texto da Martha Medeiros onde ela fala que é importante viver todas as emoções, até as infelizes. Mas vivemos na era da generalização: se vc esta calado, esta deprê; se não esta escancarando a boca como um macaco, esta deprê, e não, ninguém quer saber de gente deprê, querem saber de gente alegre e "prá cima", mesmo quando é pura ficção. O bom é que podemos "mudar de canal" e simplesmente não ler o que não tem a ver com a gente. :-) Abraço.

Anônimo disse...

Você esta ficando velho, paulo.
Mal humorzinho de meia idade do caralho.
se ligue

Juliana Tomelin disse...

100% verdade Paulo!!